quarta-feira, 10 de abril de 2013

Notas de início e fim

Dó.
O som. 
Convidou-a.
Apaixonou-a.
Repentinamente. 
Tocou seu âmago. 
Despertou seu amor. 
Apenas algumas notas? 
Não! Havia algo de místico. 
A sintonia no ar, na música, na face. 
Uma ligação com aquela doce harmonia. 
Tão louca e inexplicável interação silenciosa. 
A melodia puxava forte... E feria por ser tão bela. 
Não podiam se soltar, tal afeto era desconhecido até então. 

Essas pobres existências amarradas pelos laços vis da admiração. 
Mas logo soaram as palmas acompanhadas do desespero. 
E aquela sensação permanente de música inacabada. 
O instantâneo amor ainda pairava perplexo no ar. 
Porém a nota final sempre soará a separação. 
A música e a moça deixar-se-iam então. 
Todavia não ousemos chamar de fim. 
A moça levaria a música consigo. 
Mas a música só possui vida
Quando está vibrando no ar. 
A moça com carinho 
Guardou-a sozinha. 
Infelizmente, só. 
Pois, a música
não é matéria. 
Lá esqueceu. 
A moça. 

Tão só.
Assim.
Dó.





segunda-feira, 1 de abril de 2013

Já era madrugada em mim, e eu acordei...

Eu tive vontade de chorar com a beleza do mundo. Foi uma sensação de nascer novamente. Não, não corri nenhum perigo físico. Corri o perigo de morrer em vida, de desencantar. E foi preciso uma tristeza muito grande para eu perceber que o poço que eu estava entrando não tinha a ver com a tristeza, mas com o vazio. Com o perder de vista daquele sentimento de contemplação da vida, que é condição da minha existência (por isso me sentia deixando de existir). Afundando no vazio, não conseguia mais lutar contra a força do hábito me empurrando. O hábito, a rotina, o automático, a alienação, a cegueira diária, são os aliados do vazio. E eu não queria o mesmo destino que tantos sensíveis acabam tendo, de serem engolidos pela maquinaria do mundo. Não sei qual foi o exato momento que me reencontrei, no nascer do dia ou no final da tarde? Não importa, pois uma descoberta me fez respirar novamente, e ao expirar pude sentir o prazer de estar viva (embora ainda sejam necessárias muitas expirações para afastar todo o vazio). Abri meu coração para a solidão. Pois a solidão nos ensina amar a nós mesmos. E então tive essa sensação de renascer para o mundo. E naquele dia, o céu estava tão azul, o mar estava tão brilhante, havia um poço de luz no meio do mar, e tudo isso encheu meus olhos de lágrimas, esse final de tarde era minha fagulha de vida. “Because the sky is blue, it makes me cry”. Esse trecho dos Beatles nunca fez tanto sentido e eu o cantarolava em minha mente. Eu estava comovida com a beleza do mundo. A tristeza ainda estava em mim, o amor também, mas me reencontrar com esse sentimento de puro encantamento me renovou. A tristeza e o amor se tornaram belos. E novamente eu quis chorar, pois estava tudo isso tão perto de mim, e eu pensando que só encontraria a quilômetros de distância. A natureza esplêndida estava na minha esquina. E pude ver o quanto é possível viajar sem pegar ônibus ou avião, pois a viagem é mais interior do que qualquer coisa. Viajar é um estado de espirito. E virando a rua, eu estava viajando, vendo um bairro que nunca vi, numa cidade desconhecida. E foi isso que fiz naquele feriado, viajei, para o encontro comigo mesma. Continuo buscando respostas, percebendo o quanto ainda tenho a aprender sobre mim mesma e o mundo, mas me dei a mão e disse “vamos juntas”. Para onde? Não importa mais. Não posso deixar o mundo me engolir por estar parada pensando qual caminho seguir. Vamos em frente, mas de mãos dadas, mesmo que eu ainda não te conheça tão bem. Vamos nos conhecendo no caminho, sei que muita coisa ainda vai doer, pois a trilha para quem não consegue se ajustar é árdua, e porque ainda sou uma criança nesse mundo prático. Mas vou apertar forte sua mão e poderei suportar. Se não me perder mais de você (de mim), sei que chegarei em algum lugar, e sei que o caminho será florido e perfumado. Mesmo que algumas vezes seja um perfume de melancolia. Pois só assim vale a pena trilhar, pleno de vida, e estar pleno de vida implica em desfrutar da dor também.

"Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, acorda." Carl G. Jung


domingo, 15 de abril de 2012

sinestesia pulsante

pulsas, tu
em mim
expulsar-te?
oh, dor, irei
transformar-te
em arte

adoro
o teu odor
colorido
Vem
pro meu colo
rindo.

 




terça-feira, 10 de abril de 2012

Luz na Casa 12

Há quem diga que é mal-assombrada
e que habitam os piores monstros
que Saturno enviou.
Não lhes tiro a razão, é tão sombria esta casa...
Que força há de se ter quem nela nasceu.
pois sua meta é ao mesmo tempo seu grande medo.
Mas, ah, se superar, se evoluir, e se arrancar a cabeça
desses monstros estúpidos, o que virão
são flores, e flores, e a casa se iluminará toda.
Tudo é uma questão de acender a luz, pois
na Casa 12, o objetivo é o autoconhecimento.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A mulher, o atirador de facas, sortes e coincidências (ou não)

Eis o filme que trouxe poesia para a minha terça-feira “A mulher e o atirador de facas”. Não apenas por toda beleza do filme em si, mas pelos acontecimentos curiosos que giraram em torno dele. Tive vontade de escrever sobre isso, pois foi simples e bonito. Na tarde desse dia, pensava sem motivo aparente, como quem tem uma ideia de repente, no quão interessante seria um filme atual em preto e branco. Pensava que se eu fosse cineasta faria um filme assim pra mostrar que não se precisa de efeitos especiais pra um filme ser excelente. E que charme seria um filme recente em preto e branco, como eu queria conhecer um filme assim!  Poderia nunca mais lembrar e mencionar esse lapso se não fosse a incrível conexão que ocorreu no mesmo dia.

De noite, procurava algo pra assistir, sem esperanças, mas parei em um filme pois me deparei com algo que me encantou de imediato, e não foi o título que me atraiu, foi os olhos brilhantes da atriz. 

Esses eram os Olhos e a cena.


Estava nos primeiros cinco minutos, que sorte! Preto e branco, pensei: deve ser dos anos 60, mas não conseguia associar o filme e a atriz aos clássicos da época. Fiquei interessada e continuei a ver. E que personagem emblemática, que olhos hipnóticos, nas próximas horas não consegui desgrudar os olhos da tela, até porque o filme também era encantador. O ator também tinha olhos penetrantes e os jogos de olhares diziam mais do que palavras. Em pouco tempo estava submersa no filme. Um dos assuntos principais era a sorte e a falta dela, e como o pensamento influencia em tudo isso, o filme todo tem um modo lindo e peculiar de tratar as situações da vida e a mente humana. Me apaixonei, porque era simples, porque era lindo, porque era arte circence, porque eram duas pessoas se salvando, e se amando no ato de atirar facas. Teria tantas coisas a comentar, mas não quero contar os detalhes. O fato é, fiquei maravilhada, e após o término do filme fui olhar a descrição e então quase não acreditei quando vi o ano do filme “1999”, conectando com o meu pensamento mais cedo... Um filme de 1999 em preto e branco, nem sequer tinha suspeitado que não era um filme antigo! Fiquei rindo, a vida tava me respondendo, me mostrando que aquilo que imaginei existia e dava incrivelmente certo (se existem outros eu não sei, provavelmente sim) . O próprio assunto do filme tinha a ver com o que aconteceu: sortes, coincidências, coincidências que não são apenas coincidências... O filme já era poesia pura, essa conexão só aumentou ainda mais o significado dele pra mim. E de quebra veio em uma época que eu precisava assisti-lo e me ajudou a esclarecer certas coisas da vida. O universo sempre dá um jeito de se comunicar com você, e hoje foi uma comunicação explicita. Pura sincronicidade.



Comentário adicional (11/04/2012) : Pouco tempo depois que escrevi esse texto, foi lançado o filme O Artista, que é exatamente nessa estética que mencionei no texto. Incrível!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Os vinte que não quero.

Os vinte estão chegando, e eu não me sinto preparada. É muito para mim, como dizer... É como se não coubesse no meu corpo, esses vinte, é demais, entende? Eu acharia menos estranho se magicamente voltasse pros dezoito, seria mais coerente, até mesmo mais possível... Mas vinte? Não não, isso não pode estar acontecendo, não faz sentido algum. Sinto-me uma menina ainda, aquela mesma que pensava que quando tivesse vinte já seria adulta demais, diferente demais, interessante demais. Mas eu ainda sou ela, aquela pequena sonhando chegar nessa idade que hoje em dia é o que eu menos quero. Idade pesada demais, forte demais, não se pode mais ser uma criança nessa idade... E eu sou! Uma criança querendo que alguém pegue na sua mão e a leve correndo de um destino que parece irremediável. Tem que haver uma saída, ou será um abismo? Nem se alguém me puxar forte posso ser salva? Não, o tempo é mais forte do que qualquer puxão. E eu vou cair, cair nos vinte sem salvação. E quando chegar ao chão, serei apenas uma criança assustada de vinte anos, sem saber pra onde ir com tamanho peso de idade.




segunda-feira, 25 de julho de 2011

Nudez

Se por acaso um dia esse tecido invisível que me cobre por inteira e desde sempre me sufoca se desgrudar de meu corpo, o arrancarei com tanta força, e o rasgarei todo, todo, para que não possa nunca mais vestir nenhuma frágil existência que não tem a força interior necessária para se desprender dessa casca ilusória que impede qualquer movimento senão interior e prende a nossa essência dentro da gente, de modo que ninguém possa compartilhar do que há de bonito em nossa alma (e de feio também). Livrando-me desse empecilho, suspirarei com tanto prazer ao sentir minha face livre tocar o ar, que ele poderia se machucar com tamanha força de expiração. Será uma dor boa perder o que sempre me guiou (contra todas minhas vontades), acho que gritarei por surgir dentro de mim uma sensação repentina de coragem que num movimento impulsor grita para mostrar poder; ou gritarei devido à uma felicidade incontrolável, dessas que querem rasgar o peito e pular pro mundo; ou até de susto por ser uma sensação desconhecida que brotou inesperadamente; tanto faz porque no fim o grito é o mesmo. Gritante e despida, jogarei os retalhos pútridos da vestimenta contra o vento, que com a minha recomendação, os levará para qualquer dimensão inalcançável para que nunca qualquer anjo mau os costure e tente me vestir à força novamente. Juntarei os pedaços de cada história interrompida por esse manto que cobria meus olhos, sufocava minha fala, impedia minha respiração, e consertarei meticulosamente a vida que perdi. Correrei contra os fatos, voltarei no tempo, mudarei o sentido da terra. Para sempre nua dos meus medos.

 (Escrevi esse texto há dois anos, mas ele significa tanto pra mim que faço questão de postar nesse blog).

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Desorganização literária


Não estou em época de poesia. Estou em tempo de vomitar palavras sem ponto nem vírgula vai sair tudo embaralhado pois está um caos aqui dentro. Tenho medo de não conseguir parar por isso tenho que me conter e há tantas coisas pra ser ditas mas eu perdi o jeito de organizar. Tenho medo desse excesso de coisas e não sei o que fazer com ele, há tanta coisa pra ser escrita que não consigo escrevê-las. Só esse desabafo metalingüístico bagunçado que está saindo todo torto, o resto ta trancado, já se tornou repetitivo eu escrever dizendo que tenho que escrever já se tornou repetitivo descumprir minhas promessas para comigo mesma. E todo dia penso e organizo e monto textos completos na minha cabeça, e são melhores do que qualquer um que já escrevi. Quero de volta meus textos perdidos, estou brigando com minha própria mente, onde você escondeu? Eu consigo até mesmo lembrar o exato local que os criei e é sempre a mesma coisa “agora não dá, mas depois escrevo”, mas o texto se esvai, some inteiro, e é tanto esforço pra lembrar os textos perdidos, tanta desorganização interior, que também não consigo criar nada novo no momento que digo “vou escrever alguma coisa” qualquer coisa que seja só vem no momento que não tenho um teclado um lápis um papel. Mas agora veio algo, veio isso, essa confusão de palavras, pois eu tentava lembrar daquele texto que pensei quando tinha acabado de sair de casa ontem, e virava a esquina da minha rua então me distraí com outra coisa e...ele sumiu, e eu sinto que era especial, que pena.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

A menina que ri flores,


Riu baixinho em seu ouvido. Ai, que aconchego esse rir baixinho. Se fosse um riso estrondoso, seria um riso do mundo. E egoísta que ele era, gostava daquele risinho só pra ele, baixinho e doce assim, risinho que vinha com o cheiro de cupuaçu da sua boca. Não que cupuaçu seja a coisa mais romântica do mundo, poderia dizer cheirinho de menta ou de chocolate, pareceria mais romântico e suave, mas isso não tem nada a ver com ela, ela é a menina do cheiro de cajá, pinhão, cogumelos, acerola, até mesmo flores, e quando se diz cheiro de flores até soa bonito, mas quando diz que o cheiro de flores vem da boca, você acha esquisito, quem come flores nesse mundo?... que a chamem de estranha, acha que eles se importam? Pois, todo dia, ela chega com aquele hálito de pétalas de rosas rindo um riso só para ele, e que delícia de risinho, nesse momento, só isso lhes importa.


sábado, 9 de abril de 2011

Artevismo

arte-vista
arte-viva
arte é vida
se for ativa

Banksy

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Casa 12

Eu moro na casa doze.
Diga-me como sobreviver
nesse imenso caos silencioso.
Transeuntes gritam na rua
“Quem é você?”
Mas aqui é tão escuro,
oh, onde estará a luz nesta casa
para eu poder enxergar-me?
O que fará despertar
os dons adormecidos
que lutam e temem
pois Saturno esteve aqui?

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Flortua

em um riacho cristalino
dois jovens remavam o barquinho
uma brisa estava de passagem,
com a pitangueira florida, ela
brincava, balançava, beijava,
daí uma flor voou
caiu no barco
o jovem sorriu animado
colocou-a no cabelo da moça
que também sorriu
meio tímido, meio gago ele disse:
“flor, esta flor é tua, flor tua..”
a brisa quis brincar com a moça
foi balançar seus cabelos
e a flor voou
caiu no riacho
os jovens se entreolharam
e sorriram com ternura
“flor tua, flutua, flutua, flortua”

ficaram a observar a flortuação
e amaram-se desde então

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Lá dentro mora um furacão

Há uma parte em cada existência que se tocada, se acessada, surta entre a necessidade de gritar bem alto em extrema loucura um “pare de olhar pra cá” e entre a pura vergonha de se esconder rapidamente nas profundezas da alma, ou mesmo no primeiro buraco que aparecer porque não há muita escolha nesse momento. Por vezes, essa parte que fica no fundo do ser, é assustadora, ou linda, ou os dois, mas dificilmente é compreensível e, portanto, precisa ser inacessível há quem quer que seja. Não confunda exposição com grandeza, mesmo cuidadosamente escondida, é algo tão imenso que se não cuidar pode te fazer perder-se pra sempre. É o que há de mais individual, deve ser secreto, pois deve. Um dia talvez possa explicar com palavras, mas por vez, a reação explica.


terça-feira, 26 de outubro de 2010

Divagações confusas sobre querer

“É isso mesmo que eu quero?”. Creio que todos os dias isso passa pela minha cabeça. E a resposta só pode ser “Não!”. Então o que farei? Penso em mil possibilidades, e todas parecem pior. Afinal, não há nada que se encaixe com o que eu quero. O que eu quero é amplo demais, envolve diversos campos que aparentemente estão muito distantes. Na verdade, quero muita coisa, muita mesmo. O que soa estranho, se acabei de dizer que nada se encaixa. E nada se encaixa mesmo, é confuso, mas dentro dessas opções que nos oferecem simplesmente nada é o que eu quero seguir para sempre. Talvez o motivo seja simples: não quero seguir nada para sempre, não quero Ser Isso ou Ser Aquilo. Quero ser muita coisa, separada e misturada. Tento organizar uma idéia na minha cabeça, e é difícil, pois tudo tenta me empurrar pra um único caminho, como só fosse possível viver de um único jeito. E até eu, que discordo muito disso, tenho imensa dificuldade de me convencer que não preciso seguir essa vida “normal”. Então, repito pra mim mesma “não tem que ser assim, as possibilidades são infinitas”. Enfim, sei que agora não estou fazendo exatamente o que eu quero pra vida, mas faz parte de um processo, e estou fazendo um curso na faculdade que concluí ser o mais flexível, e que eu gosto bastante, apesar de me sufocar justamente por me empurrar pra esse caminho limitado de "é isso que você fará da sua vida e ponto". Mas não posso esquecer, de forma alguma, que isso é só uma base, é só algo que me dará conhecimentos e técnicas em algo. E não é o que definirá os rumos da minha vida. Não tenho que me prender a isso, vou poder fazer as coisas que eu quero mesmo que não tenham nada a ver com meu curso. Que mania de pensarem que depois que escolhe um curso na faculdade tudo na sua vida tem que ser feito em torno disso. Independentemente do que pensam, viverei de outra forma e me permitirei ir muito além desse diploma e desse estilo de vida que em nada me agrada. Amo Arte, mas amo muitas outras coisas que não posso de forma alguma excluir da minha vida e dos meus projetos. Sei que a dúvida não cessará, mas sei também que qualquer outra coisa que eu fizesse me daria o mesmo incomodo. Pois não há curso na faculdade que dá conta dos meus objetivos. Tentarei me manter firme, mesmo que às vezes dê vontade de jogar tudo pro alto e ir pra bem longe. Sei que preciso passar por essa etapa, que seja com Arte então.



quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ilusão

era uma vez
uma cidade cinzenta
só de cimento e concreto
e de pessoas duras como pedras
um dia uma rosa ali brotou
e seu perfume se espalhou
incondicionalmente bela
um grande incomodo
uma verdadeira agonia
fazia as pessoas pensarem
em suas vidas tão vazias
quase foi uma flor revolucionária
mas, resolveram arrancar a rosa
com o pretexto de voltar
à uma suposta ordem
e nunca mais tocaram no assunto

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dos tempos onde o mundo era mágico.

Equilibrava-me cuidadosamente nas pedras em volta da árvore, pois, o chão era um grande rio e se eu caísse os jacarés podiam me pegar. As bolhas de sabão eram feitas com um sabão mágico por seres que queriam deixar a vida mais bela. As fadinhas, eram os pontos luminosos no jardim sempre dispostas a nos escutar. As nuvens eram feitas de algodão doce, e não compreendia porque os adultos quando estavam nas montanhas não pegavam um pouquinho. A rede era um barco e o chão era o mar revolto, muito cuidado para não cair, balança balança. O jambo que roubávamos da casa do vizinho era delicioso, nunca esquecerei esse sabor. O bambuzal era um labirinto criado por mim mesma. Passava horas andando em volta de casa, viajando para outros mundos e imaginando mil histórias (parecia que andando a imaginação funcionava bem melhor). Na piscina eu era uma sereia que podia viver na água pra sempre. The Beatles era aquele grupo que minha mãe escutava em dias ensolarados. A chácara da vovó era uma selva a ser explorada (por mim). Não podia pisar na linha da calçada senão algo muito ruim iria acontecer. As caixinhas de música eram pequenos tesouros. As estrelas iriam realizar meus sonhos. Meu mundo era imaginação infinita e puro sonho. Havia magia no ar, com certeza era uma sensação de vida diferente da de hoje. Ah, como eu tento manter tudo isso, mas é difícil, pois a sociedade tenta sempre afastar a criança e a boa imaginação de nós. O que pra mim é algo terrível, pois se todos guardassem um pouco dessa magia infantil, o mundo seria um lugar muito melhor. As crianças às vezes são muito mais sãs e sabem viver muito melhor do que os adultos, que já cristalizaram com suas visões quadradas e creem que o mundo é nada mais, nada menos essa coisa minúscula e limitada que eles cismam ser, não se permitem voar e ir um pouco além dessa realidade fechada. Mal sabem eles que seriam muito mais felizes aprendendo com as crianças a apreciar a vida com suas pequenas e belas coisas, e também, a voar um pouquinho dentro de seu próprio interior.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sonho lúcido

Além do óbvio, em sublimação etérea
Brota um ardor que eleva e aquece.
Eis que as almas em súbito transe.
São tomadas por profundo romance.
Em vasto campo de realidades alternativas
Se encontrarão na direção evolutiva



sábado, 11 de setembro de 2010

O desabrochar no caos

Eu era só uma adolescente em busca de respostas. Lembro-me bem, uns treze anos de idade, perdida e assustada. E como dizem por aí que quando temos problemas devemos ir ao psicólogo, busquei um, pensando que encontraria soluções. Eu nunca tinha me aberto pra ninguém, com muita dificuldade disse um pouco do que me atormentava, achando que valeria a pena e que era necessário. E o que a psicóloga me disse foi o seguinte: passe um batom, uma maquiagem, se sinta mais bonita. Passe uma maquiagem? Meu mundo caindo e a psicóloga dizendo pra eu passar maquiagem? Nunca mais voltei lá, e pra piorar, me senti mais incompreensível ainda, nem sequer uma psicóloga me entendia! Ouvia frequentemente dos adultos que aquilo que eu sentia não era nada e que quando crescesse ia piorar, que eu não tinha responsabilidades e contas pra pagar. Eu cheguei a achar que estava tudo perdido, pois, se tão novinha que eu era, estava me sentindo daquele jeito, e se a tendência é piorar cada vez mais, de fato, chegaria um dia que não teria espaço no meu corpo pra tanta dor. Mas agora, que o tempo passou e a dor não cresceu, estive olhando pra essa época, e só pude chegar a tais conclusões. Não há dor igual à da adolescência, simplesmente não há, não digo que é a maior dor nem a menor, é uma dor única e imensa, e que eu não menosprezo nem um pouco. Os adultos acham que ninguém sofre mais que eles próprios, mal sabem o mal que tão fazendo ao não dar a devida importância à dor dos filhos, e veja, não é pra tratá-los como crianças sem doce, mas sim como pessoas em uma transição muito difícil. Todo mundo olha para a adolescência como uma fase de futilidades e babaquices, e confesso que na minha própria adolescência eu via as pessoas da minha idade como idiotas (sim, eu era muito revoltada), mas deve-se entender que é uma fase onde todos estão buscando uma identidade, um lugar onde se encaixar, e a própria futilidade dos adultos faz-se refletir nos pobres adolescentes. Eis que eu era adolescente e não me encaixava em nada, pra completar fui arremessada num mundo que eu não conhecia, sentia coisas que eu mal sabia que existia, era como um prédio desabando sobre uma pequena joaninha! E ainda me vem uma psicóloga dizendo que a solução pra todos meus problemas era a maquiagem, olha só a raiz dessa cultura de aparências, o dinheiro e a beleza resolverá todos seus problemas. Mas eu não dava a mínima pra isso, e acabei desistindo da ajuda alheia, desajustada e com poucos amigos, esquisita, caí várias vezes por tentar me equilibrar em cordas bambas, busquei refúgios em perigos, no meu próprio caos cresci. E no fim consegui sobreviver à minha adolescência.

“Doctor: What are you doing here, honey? You're not even old enough to know how bad life gets.
Cecilia: Obviously, Doctor, you've never been a 13-year-old girl.”
[The Virgin Suicides]


sábado, 28 de agosto de 2010

Os reflexos em mim.

Que insano o que o teatro faz com a gente! Entrei no curso esperando aprender um pouquinho de teatro. E saí aprendendo a viver, a conviver, a ser, a compreender, porque, teatro é tudo isso e muito mais. E há muito que aprender ainda. Agradeço não só aos meus excelentes instrutores que me deram verdadeiras lições de vida, como também aos companheiros de trabalhos que estiveram comigo nesses tempos de desgaste, loucura, tensões, aprendizado, alegrias, risos... Porque é assim que conhecemos de verdade as pessoas, nos melhores e nos piores momentos. E sim, acho que nesse trabalho fomos aos nossos extremos. Tivemos os melhores e os piores sentimentos. Mas no final, permaneceu um sentimento tão, mas tão bom, que compensa qualquer dificuldade que tivemos no caminho. Sabemos bem que sensação é essa. Uma alegria gigantesca misturada com uma tristeza, daquelas que você sente quando sabe que em breve esse momento magnífico se transformará em boas lembranças. É tão bom quando vê que todo esforço valeu a pena. Essa nossa merda é uma merda bem fedida, mas é nossa. É nossa merda mais linda, e foi construída em conjunto, com muito suor e loucura. Fomos insanos ao bater o pé, mas fomos adiante sabendo dos riscos, e não é que valeu a pena? Aprendi nesse tempo que sem críticas não evoluímos e não enxergamos nossos erros. E também que é preciso ir além do que esperam de nós. Teatro tem que atuar nessa sociedade como agente modificante, tem que elevar mentes, tem que acrescentar!! Quero continuar, quero continuar, agora é isso que passa na minha cabeça. Acabou mesmo? Não acabou... Isso não acaba aqui, estará sempre em mim, e se a vida permitir, quero encontrar essas pessoas muitas outras vezes, e compartilhar outros momentos como esse, e melhor, quero que esse trabalho siga em frente, pois sei que pode ser muito mais desenvolvido. E se não der, será sempre essa lembrança, uma das mais lindas que eu tenho. Tenho muito mais a dizer sobre isso. Nem sequer falei sobre a peça que merece um post em si! Esse post foi mais como um desabafo bom, um registro dessa etapa que me fez crescer tanto. Taí, o tema da nossa peça diretamente em minha vida, o reflexo que “Reflexos” teve em mim!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Textos perdidos

No ônibus, no banho, na sala de aula, frequentemente surge um texto na cabeça, uma poesia, uma necessidade insana de escrever, e no meio de tanta correria, de tanta loucura, de tanto afazeres, o texto se perde, se esvai nos ares dessa cidade grande, e aquela vontade é reprimida por pensamentos como "não há tempo para isso". Meus melhores textos creio que nunca foram escritos. Nem sequer lembro deles. E sinto certo desespero, pois isso vem acontecido com tanta frequencia que temo estar cada vez mais distante de mim. Sim, escrever me aproxima de mim, e isso é preciso, é como combustível para a vida. E hoje no banho eu pensei: preciso escrever, o que quer que seja. Eu amo escrever, mas me vejo envolta por tantas obrigações que me sinto culpada por perder alguns minutos com minha introspecção. É ridículo. Justo eu, que tanto defendo a liberdade, que acho que as pessoas devem ser elas mesmas e não o que a sociedade quer delas. Justo eu, sou tão hipócrita comigo mesma ao ponto de não levar minhas ideologias para minha vida. O que custa alguns minutos para escrever, se isto me faz bem tão bem? Preciso escrever, preciso escrever, preciso escrever. Estou dando uma bronca em mim mesma por tamanha estupidez de agir com minha própria vida. Pretendo, e dessa vez pretendo mesmo, escrever mais, voltar a postar por aqui, seja lá o que eu tenha pra fazer, obrigações, trabalhos, provas. Isso é pouco diante da importância que é olhar para dentro de mim mesma, de me compreender, de me expressar, enfim, de estar comigo.