segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Os vinte que não quero.

Os vinte estão chegando, e eu não me sinto preparada. É muito para mim, como dizer... É como se não coubesse no meu corpo, esses vinte, é demais, entende? Eu acharia menos estranho se magicamente voltasse pros dezoito, seria mais coerente, até mesmo mais possível... Mas vinte? Não não, isso não pode estar acontecendo, não faz sentido algum. Sinto-me uma menina ainda, aquela mesma que pensava que quando tivesse vinte já seria adulta demais, diferente demais, interessante demais. Mas eu ainda sou ela, aquela pequena sonhando chegar nessa idade que hoje em dia é o que eu menos quero. Idade pesada demais, forte demais, não se pode mais ser uma criança nessa idade... E eu sou! Uma criança querendo que alguém pegue na sua mão e a leve correndo de um destino que parece irremediável. Tem que haver uma saída, ou será um abismo? Nem se alguém me puxar forte posso ser salva? Não, o tempo é mais forte do que qualquer puxão. E eu vou cair, cair nos vinte sem salvação. E quando chegar ao chão, serei apenas uma criança assustada de vinte anos, sem saber pra onde ir com tamanho peso de idade.




segunda-feira, 25 de julho de 2011

Nudez

Se por acaso um dia esse tecido invisível que me cobre por inteira e desde sempre me sufoca se desgrudar de meu corpo, o arrancarei com tanta força, e o rasgarei todo, todo, para que não possa nunca mais vestir nenhuma frágil existência que não tem a força interior necessária para se desprender dessa casca ilusória que impede qualquer movimento senão interior e prende a nossa essência dentro da gente, de modo que ninguém possa compartilhar do que há de bonito em nossa alma (e de feio também). Livrando-me desse empecilho, suspirarei com tanto prazer ao sentir minha face livre tocar o ar, que ele poderia se machucar com tamanha força de expiração. Será uma dor boa perder o que sempre me guiou (contra todas minhas vontades), acho que gritarei por surgir dentro de mim uma sensação repentina de coragem que num movimento impulsor grita para mostrar poder; ou gritarei devido à uma felicidade incontrolável, dessas que querem rasgar o peito e pular pro mundo; ou até de susto por ser uma sensação desconhecida que brotou inesperadamente; tanto faz porque no fim o grito é o mesmo. Gritante e despida, jogarei os retalhos pútridos da vestimenta contra o vento, que com a minha recomendação, os levará para qualquer dimensão inalcançável para que nunca qualquer anjo mau os costure e tente me vestir à força novamente. Juntarei os pedaços de cada história interrompida por esse manto que cobria meus olhos, sufocava minha fala, impedia minha respiração, e consertarei meticulosamente a vida que perdi. Correrei contra os fatos, voltarei no tempo, mudarei o sentido da terra. Para sempre nua dos meus medos.

 (Escrevi esse texto há dois anos, mas ele significa tanto pra mim que faço questão de postar nesse blog).

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Desorganização literária


Não estou em época de poesia. Estou em tempo de vomitar palavras sem ponto nem vírgula vai sair tudo embaralhado pois está um caos aqui dentro. Tenho medo de não conseguir parar por isso tenho que me conter e há tantas coisas pra ser ditas mas eu perdi o jeito de organizar. Tenho medo desse excesso de coisas e não sei o que fazer com ele, há tanta coisa pra ser escrita que não consigo escrevê-las. Só esse desabafo metalingüístico bagunçado que está saindo todo torto, o resto ta trancado, já se tornou repetitivo eu escrever dizendo que tenho que escrever já se tornou repetitivo descumprir minhas promessas para comigo mesma. E todo dia penso e organizo e monto textos completos na minha cabeça, e são melhores do que qualquer um que já escrevi. Quero de volta meus textos perdidos, estou brigando com minha própria mente, onde você escondeu? Eu consigo até mesmo lembrar o exato local que os criei e é sempre a mesma coisa “agora não dá, mas depois escrevo”, mas o texto se esvai, some inteiro, e é tanto esforço pra lembrar os textos perdidos, tanta desorganização interior, que também não consigo criar nada novo no momento que digo “vou escrever alguma coisa” qualquer coisa que seja só vem no momento que não tenho um teclado um lápis um papel. Mas agora veio algo, veio isso, essa confusão de palavras, pois eu tentava lembrar daquele texto que pensei quando tinha acabado de sair de casa ontem, e virava a esquina da minha rua então me distraí com outra coisa e...ele sumiu, e eu sinto que era especial, que pena.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

A menina que ri flores,


Riu baixinho em seu ouvido. Ai, que aconchego esse rir baixinho. Se fosse um riso estrondoso, seria um riso do mundo. E egoísta que ele era, gostava daquele risinho só pra ele, baixinho e doce assim, risinho que vinha com o cheiro de cupuaçu da sua boca. Não que cupuaçu seja a coisa mais romântica do mundo, poderia dizer cheirinho de menta ou de chocolate, pareceria mais romântico e suave, mas isso não tem nada a ver com ela, ela é a menina do cheiro de cajá, pinhão, cogumelos, acerola, até mesmo flores, e quando se diz cheiro de flores até soa bonito, mas quando diz que o cheiro de flores vem da boca, você acha esquisito, quem come flores nesse mundo?... que a chamem de estranha, acha que eles se importam? Pois, todo dia, ela chega com aquele hálito de pétalas de rosas rindo um riso só para ele, e que delícia de risinho, nesse momento, só isso lhes importa.


sábado, 9 de abril de 2011

Artevismo

arte-vista
arte-viva
arte é vida
se for ativa

Banksy

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Casa 12

Eu moro na casa doze.
Diga-me como sobreviver
nesse imenso caos silencioso.
Transeuntes gritam na rua
“Quem é você?”
Mas aqui é tão escuro,
oh, onde estará a luz nesta casa
para eu poder enxergar-me?
O que fará despertar
os dons adormecidos
que lutam e temem
pois Saturno esteve aqui?

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Flortua

em um riacho cristalino
dois jovens remavam o barquinho
uma brisa estava de passagem,
com a pitangueira florida, ela
brincava, balançava, beijava,
daí uma flor voou
caiu no barco
o jovem sorriu animado
colocou-a no cabelo da moça
que também sorriu
meio tímido, meio gago ele disse:
“flor, esta flor é tua, flor tua..”
a brisa quis brincar com a moça
foi balançar seus cabelos
e a flor voou
caiu no riacho
os jovens se entreolharam
e sorriram com ternura
“flor tua, flutua, flutua, flortua”

ficaram a observar a flortuação
e amaram-se desde então