segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Lá dentro mora um furacão

Há uma parte em cada existência que se tocada, se acessada, surta entre a necessidade de gritar bem alto em extrema loucura um “pare de olhar pra cá” e entre a pura vergonha de se esconder rapidamente nas profundezas da alma, ou mesmo no primeiro buraco que aparecer porque não há muita escolha nesse momento. Por vezes, essa parte que fica no fundo do ser, é assustadora, ou linda, ou os dois, mas dificilmente é compreensível e, portanto, precisa ser inacessível há quem quer que seja. Não confunda exposição com grandeza, mesmo cuidadosamente escondida, é algo tão imenso que se não cuidar pode te fazer perder-se pra sempre. É o que há de mais individual, deve ser secreto, pois deve. Um dia talvez possa explicar com palavras, mas por vez, a reação explica.


terça-feira, 26 de outubro de 2010

Divagações confusas sobre querer

“É isso mesmo que eu quero?”. Creio que todos os dias isso passa pela minha cabeça. E a resposta só pode ser “Não!”. Então o que farei? Penso em mil possibilidades, e todas parecem pior. Afinal, não há nada que se encaixe com o que eu quero. O que eu quero é amplo demais, envolve diversos campos que aparentemente estão muito distantes. Na verdade, quero muita coisa, muita mesmo. O que soa estranho, se acabei de dizer que nada se encaixa. E nada se encaixa mesmo, é confuso, mas dentro dessas opções que nos oferecem simplesmente nada é o que eu quero seguir para sempre. Talvez o motivo seja simples: não quero seguir nada para sempre, não quero Ser Isso ou Ser Aquilo. Quero ser muita coisa, separada e misturada. Tento organizar uma idéia na minha cabeça, e é difícil, pois tudo tenta me empurrar pra um único caminho, como só fosse possível viver de um único jeito. E até eu, que discordo muito disso, tenho imensa dificuldade de me convencer que não preciso seguir essa vida “normal”. Então, repito pra mim mesma “não tem que ser assim, as possibilidades são infinitas”. Enfim, sei que agora não estou fazendo exatamente o que eu quero pra vida, mas faz parte de um processo, e estou fazendo um curso na faculdade que concluí ser o mais flexível, e que eu gosto bastante, apesar de me sufocar justamente por me empurrar pra esse caminho limitado de "é isso que você fará da sua vida e ponto". Mas não posso esquecer, de forma alguma, que isso é só uma base, é só algo que me dará conhecimentos e técnicas em algo. E não é o que definirá os rumos da minha vida. Não tenho que me prender a isso, vou poder fazer as coisas que eu quero mesmo que não tenham nada a ver com meu curso. Que mania de pensarem que depois que escolhe um curso na faculdade tudo na sua vida tem que ser feito em torno disso. Independentemente do que pensam, viverei de outra forma e me permitirei ir muito além desse diploma e desse estilo de vida que em nada me agrada. Amo Arte, mas amo muitas outras coisas que não posso de forma alguma excluir da minha vida e dos meus projetos. Sei que a dúvida não cessará, mas sei também que qualquer outra coisa que eu fizesse me daria o mesmo incomodo. Pois não há curso na faculdade que dá conta dos meus objetivos. Tentarei me manter firme, mesmo que às vezes dê vontade de jogar tudo pro alto e ir pra bem longe. Sei que preciso passar por essa etapa, que seja com Arte então.



quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ilusão

era uma vez
uma cidade cinzenta
só de cimento e concreto
e de pessoas duras como pedras
um dia uma rosa ali brotou
e seu perfume se espalhou
incondicionalmente bela
um grande incomodo
uma verdadeira agonia
fazia as pessoas pensarem
em suas vidas tão vazias
quase foi uma flor revolucionária
mas, resolveram arrancar a rosa
com o pretexto de voltar
à uma suposta ordem
e nunca mais tocaram no assunto

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dos tempos onde o mundo era mágico.

Equilibrava-me cuidadosamente nas pedras em volta da árvore, pois, o chão era um grande rio e se eu caísse os jacarés podiam me pegar. As bolhas de sabão eram feitas com um sabão mágico por seres que queriam deixar a vida mais bela. As fadinhas, eram os pontos luminosos no jardim sempre dispostas a nos escutar. As nuvens eram feitas de algodão doce, e não compreendia porque os adultos quando estavam nas montanhas não pegavam um pouquinho. A rede era um barco e o chão era o mar revolto, muito cuidado para não cair, balança balança. O jambo que roubávamos da casa do vizinho era delicioso, nunca esquecerei esse sabor. O bambuzal era um labirinto criado por mim mesma. Passava horas andando em volta de casa, viajando para outros mundos e imaginando mil histórias (parecia que andando a imaginação funcionava bem melhor). Na piscina eu era uma sereia que podia viver na água pra sempre. The Beatles era aquele grupo que minha mãe escutava em dias ensolarados. A chácara da vovó era uma selva a ser explorada (por mim). Não podia pisar na linha da calçada senão algo muito ruim iria acontecer. As caixinhas de música eram pequenos tesouros. As estrelas iriam realizar meus sonhos. Meu mundo era imaginação infinita e puro sonho. Havia magia no ar, com certeza era uma sensação de vida diferente da de hoje. Ah, como eu tento manter tudo isso, mas é difícil, pois a sociedade tenta sempre afastar a criança e a boa imaginação de nós. O que pra mim é algo terrível, pois se todos guardassem um pouco dessa magia infantil, o mundo seria um lugar muito melhor. As crianças às vezes são muito mais sãs e sabem viver muito melhor do que os adultos, que já cristalizaram com suas visões quadradas e creem que o mundo é nada mais, nada menos essa coisa minúscula e limitada que eles cismam ser, não se permitem voar e ir um pouco além dessa realidade fechada. Mal sabem eles que seriam muito mais felizes aprendendo com as crianças a apreciar a vida com suas pequenas e belas coisas, e também, a voar um pouquinho dentro de seu próprio interior.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sonho lúcido

Além do óbvio, em sublimação etérea
Brota um ardor que eleva e aquece.
Eis que as almas em súbito transe.
São tomadas por profundo romance.
Em vasto campo de realidades alternativas
Se encontrarão na direção evolutiva



sábado, 11 de setembro de 2010

O desabrochar no caos

Eu era só uma adolescente em busca de respostas. Lembro-me bem, uns treze anos de idade, perdida e assustada. E como dizem por aí que quando temos problemas devemos ir ao psicólogo, busquei um, pensando que encontraria soluções. Eu nunca tinha me aberto pra ninguém, com muita dificuldade disse um pouco do que me atormentava, achando que valeria a pena e que era necessário. E o que a psicóloga me disse foi o seguinte: passe um batom, uma maquiagem, se sinta mais bonita. Passe uma maquiagem? Meu mundo caindo e a psicóloga dizendo pra eu passar maquiagem? Nunca mais voltei lá, e pra piorar, me senti mais incompreensível ainda, nem sequer uma psicóloga me entendia! Ouvia frequentemente dos adultos que aquilo que eu sentia não era nada e que quando crescesse ia piorar, que eu não tinha responsabilidades e contas pra pagar. Eu cheguei a achar que estava tudo perdido, pois, se tão novinha que eu era, estava me sentindo daquele jeito, e se a tendência é piorar cada vez mais, de fato, chegaria um dia que não teria espaço no meu corpo pra tanta dor. Mas agora, que o tempo passou e a dor não cresceu, estive olhando pra essa época, e só pude chegar a tais conclusões. Não há dor igual à da adolescência, simplesmente não há, não digo que é a maior dor nem a menor, é uma dor única e imensa, e que eu não menosprezo nem um pouco. Os adultos acham que ninguém sofre mais que eles próprios, mal sabem o mal que tão fazendo ao não dar a devida importância à dor dos filhos, e veja, não é pra tratá-los como crianças sem doce, mas sim como pessoas em uma transição muito difícil. Todo mundo olha para a adolescência como uma fase de futilidades e babaquices, e confesso que na minha própria adolescência eu via as pessoas da minha idade como idiotas (sim, eu era muito revoltada), mas deve-se entender que é uma fase onde todos estão buscando uma identidade, um lugar onde se encaixar, e a própria futilidade dos adultos faz-se refletir nos pobres adolescentes. Eis que eu era adolescente e não me encaixava em nada, pra completar fui arremessada num mundo que eu não conhecia, sentia coisas que eu mal sabia que existia, era como um prédio desabando sobre uma pequena joaninha! E ainda me vem uma psicóloga dizendo que a solução pra todos meus problemas era a maquiagem, olha só a raiz dessa cultura de aparências, o dinheiro e a beleza resolverá todos seus problemas. Mas eu não dava a mínima pra isso, e acabei desistindo da ajuda alheia, desajustada e com poucos amigos, esquisita, caí várias vezes por tentar me equilibrar em cordas bambas, busquei refúgios em perigos, no meu próprio caos cresci. E no fim consegui sobreviver à minha adolescência.

“Doctor: What are you doing here, honey? You're not even old enough to know how bad life gets.
Cecilia: Obviously, Doctor, you've never been a 13-year-old girl.”
[The Virgin Suicides]


sábado, 28 de agosto de 2010

Os reflexos em mim.

Que insano o que o teatro faz com a gente! Entrei no curso esperando aprender um pouquinho de teatro. E saí aprendendo a viver, a conviver, a ser, a compreender, porque, teatro é tudo isso e muito mais. E há muito que aprender ainda. Agradeço não só aos meus excelentes instrutores que me deram verdadeiras lições de vida, como também aos companheiros de trabalhos que estiveram comigo nesses tempos de desgaste, loucura, tensões, aprendizado, alegrias, risos... Porque é assim que conhecemos de verdade as pessoas, nos melhores e nos piores momentos. E sim, acho que nesse trabalho fomos aos nossos extremos. Tivemos os melhores e os piores sentimentos. Mas no final, permaneceu um sentimento tão, mas tão bom, que compensa qualquer dificuldade que tivemos no caminho. Sabemos bem que sensação é essa. Uma alegria gigantesca misturada com uma tristeza, daquelas que você sente quando sabe que em breve esse momento magnífico se transformará em boas lembranças. É tão bom quando vê que todo esforço valeu a pena. Essa nossa merda é uma merda bem fedida, mas é nossa. É nossa merda mais linda, e foi construída em conjunto, com muito suor e loucura. Fomos insanos ao bater o pé, mas fomos adiante sabendo dos riscos, e não é que valeu a pena? Aprendi nesse tempo que sem críticas não evoluímos e não enxergamos nossos erros. E também que é preciso ir além do que esperam de nós. Teatro tem que atuar nessa sociedade como agente modificante, tem que elevar mentes, tem que acrescentar!! Quero continuar, quero continuar, agora é isso que passa na minha cabeça. Acabou mesmo? Não acabou... Isso não acaba aqui, estará sempre em mim, e se a vida permitir, quero encontrar essas pessoas muitas outras vezes, e compartilhar outros momentos como esse, e melhor, quero que esse trabalho siga em frente, pois sei que pode ser muito mais desenvolvido. E se não der, será sempre essa lembrança, uma das mais lindas que eu tenho. Tenho muito mais a dizer sobre isso. Nem sequer falei sobre a peça que merece um post em si! Esse post foi mais como um desabafo bom, um registro dessa etapa que me fez crescer tanto. Taí, o tema da nossa peça diretamente em minha vida, o reflexo que “Reflexos” teve em mim!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Textos perdidos

No ônibus, no banho, na sala de aula, frequentemente surge um texto na cabeça, uma poesia, uma necessidade insana de escrever, e no meio de tanta correria, de tanta loucura, de tanto afazeres, o texto se perde, se esvai nos ares dessa cidade grande, e aquela vontade é reprimida por pensamentos como "não há tempo para isso". Meus melhores textos creio que nunca foram escritos. Nem sequer lembro deles. E sinto certo desespero, pois isso vem acontecido com tanta frequencia que temo estar cada vez mais distante de mim. Sim, escrever me aproxima de mim, e isso é preciso, é como combustível para a vida. E hoje no banho eu pensei: preciso escrever, o que quer que seja. Eu amo escrever, mas me vejo envolta por tantas obrigações que me sinto culpada por perder alguns minutos com minha introspecção. É ridículo. Justo eu, que tanto defendo a liberdade, que acho que as pessoas devem ser elas mesmas e não o que a sociedade quer delas. Justo eu, sou tão hipócrita comigo mesma ao ponto de não levar minhas ideologias para minha vida. O que custa alguns minutos para escrever, se isto me faz bem tão bem? Preciso escrever, preciso escrever, preciso escrever. Estou dando uma bronca em mim mesma por tamanha estupidez de agir com minha própria vida. Pretendo, e dessa vez pretendo mesmo, escrever mais, voltar a postar por aqui, seja lá o que eu tenha pra fazer, obrigações, trabalhos, provas. Isso é pouco diante da importância que é olhar para dentro de mim mesma, de me compreender, de me expressar, enfim, de estar comigo.

domingo, 6 de junho de 2010

Ver

Existe muito, mas muito mesmo, além do que se pode ver, além do que nos dizem ter. Queria poder escrever com liberdade tudo que penso sobre esse assunto aqui, mas terei que me limitar a dizer que (quase) tudo o que é estabelecido como verdade hoje em dia é extremamente limitado e acreditar em instituições é fechar sua mente à imensidão que é esse mundo. Pense por si mesmo, e não através de coisas que afirmam ser a unica verdade possível. A sociedade, a moral, o sistema não tem a verdade absoluta de nada! Não deixe os outros guiarem sua vida, seus caminhos e seus pensamentos. Em qualquer época da existência humana, a sociedade sempre pensou que sua visão de mundo era a correta, que não havia mais nada a descobrir, e que o mundo era aquilo que acreditavam ser (tanto que os grandes inventores, revolucionários de idéias, filósofos, etc, a principio sempre passavam por uma grande rejeição, é muito difícil quebrar paradigmas).
Será realmente que hoje em dia estão todos certos, e que o mundo é isso aí que nos dizem?

“Quem só acredita no visível tem um mundo muito pequeno” Caio Fernando Abreu

“Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha a nossa vã filosofia” William Shakespeare

terça-feira, 4 de maio de 2010

Dança dos ventos

A vida gira com o mundo
Gira feito um carrossel
E quando vem a ventania
Gira como um catavento no céu

Sei que faço parte dessa roda
Danço para nunca estagnar
Se eu não mudar com a vida
Com força ela vai me arrastar

Uma hora êxtase, outra agonia
A todo momento a percepção oscila
Um filme de cenas repetidas
É em círculos que corre a vida

Em cada volta nasce uma nova visão
E mais experiência para me guiar
Em novos rumos irei voando
Nesse fluxo do eterno mudar

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Ainda

Não abandonei o blog, só preciso organizar minhas idéias. Muitas coisas estão acontecendo, muitas idéias novas, tenho mudado o tempo todo e ainda não ajeitei isso dentro de mim. Até penso em muitos textos, mas não saem da minha cabeça pro papel. Espero conseguir escrever logo...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sonhadores de ônibus

(Tirarei as teias daqui com um texto antigo do outro blog. Eu gosto dele e não gostaria que caísse no esquecimento. Prometo voltar em breve com algo novo).

Entrou no ônibus exausta, como sempre ansiosa por chegar em casa. Sentou na janela para sentir o vento em sua cara, era um dia quente. Estava chegando naquele ponto. “Será que nossos horários se cruzarão?” Pensava. Era esse o momento que podia sair da rotina de todos os dias, e hoje tomaria coragem. Olhou pela janela, e lá estava ele, ansioso para vê-la. Tão lindo que doía seu coração. Esse seria o momento, ela finalmente iria se declarar. Ouviu o barulho da roleta, virou discretamente com seu olhar meigo para trás. Como se estivesse o convidando a sentar no lugar vago ao seu lado. Mas desanimou ao ver que havia bancos vazios. O jovem sentou um pouco atrás dela, mas isso não impediu de ficarem juntos (de certa forma). Ela sabia que ele não sentou ao seu lado, pois ficariam óbvios seus sentimentos por ela “E um pouco de charme é preciso”. Mas hoje era o dia, e estava decidida a isso. Ela se levantou, sentou ao lado dele, e disse "eu sempre te amei, vinha te observando há tanto tempo!", então ele disse "eu também, minha querida, vamos sair daqui!". Desceram, nem sabiam aonde, mas ao descer correram de mãos dadas rumo ao nada, correram como se tivessem se redimindo por tanto tempo de silêncio. Eles riam como duas crianças, uma senhora disse que os viu flutuar. O homem cego sentiu a presença de felicidade, e correu. Correu, pois acreditou que nunca sentiria aquilo de novo, e era um sentimento bom. A senhora correu, pois se preocupou com o homem cego. Logo, deram as mãos sem perceber. Uma criança correu, pois achou que os jovens saíram de um conto de fadas. A mãe correu atrás da criança. Em pouco tempo havia pelo menos 10 pessoas correndo por diversos motivos. Como em um musical, todos podiam sentir a música. Alguém puxou o sinal para descer do ônibus, o som a atingiu em cheio e ela despertou dos seus devaneios. Foi ele que puxara, e então passou por ela e nem sequer a olhou. “Será que não me viu?” Era o que a confortava. Por hoje, não faz mais sentido fantasiar. Fantasiava, pois tinha a esperança do acontecer. Esse não era o dia, mas da próxima vez será. Ela vem pensando isso desde a primeira vez que o viu. É que precisam se conhecer melhor, assim, de longe. Apesar de até terem se casado. Ele desceu. Por hoje o sonho acabou. Sempre teve vontade de descer junto, mas a força da rotina nunca a deixou levantar

(Julho / 2008 )