sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sonho lúcido

Além do óbvio, em sublimação etérea
Brota um ardor que eleva e aquece.
Eis que as almas em súbito transe.
São tomadas por profundo romance.
Em vasto campo de realidades alternativas
Se encontrarão na direção evolutiva



sábado, 11 de setembro de 2010

O desabrochar no caos

Eu era só uma adolescente em busca de respostas. Lembro-me bem, uns treze anos de idade, perdida e assustada. E como dizem por aí que quando temos problemas devemos ir ao psicólogo, busquei um, pensando que encontraria soluções. Eu nunca tinha me aberto pra ninguém, com muita dificuldade disse um pouco do que me atormentava, achando que valeria a pena e que era necessário. E o que a psicóloga me disse foi o seguinte: passe um batom, uma maquiagem, se sinta mais bonita. Passe uma maquiagem? Meu mundo caindo e a psicóloga dizendo pra eu passar maquiagem? Nunca mais voltei lá, e pra piorar, me senti mais incompreensível ainda, nem sequer uma psicóloga me entendia! Ouvia frequentemente dos adultos que aquilo que eu sentia não era nada e que quando crescesse ia piorar, que eu não tinha responsabilidades e contas pra pagar. Eu cheguei a achar que estava tudo perdido, pois, se tão novinha que eu era, estava me sentindo daquele jeito, e se a tendência é piorar cada vez mais, de fato, chegaria um dia que não teria espaço no meu corpo pra tanta dor. Mas agora, que o tempo passou e a dor não cresceu, estive olhando pra essa época, e só pude chegar a tais conclusões. Não há dor igual à da adolescência, simplesmente não há, não digo que é a maior dor nem a menor, é uma dor única e imensa, e que eu não menosprezo nem um pouco. Os adultos acham que ninguém sofre mais que eles próprios, mal sabem o mal que tão fazendo ao não dar a devida importância à dor dos filhos, e veja, não é pra tratá-los como crianças sem doce, mas sim como pessoas em uma transição muito difícil. Todo mundo olha para a adolescência como uma fase de futilidades e babaquices, e confesso que na minha própria adolescência eu via as pessoas da minha idade como idiotas (sim, eu era muito revoltada), mas deve-se entender que é uma fase onde todos estão buscando uma identidade, um lugar onde se encaixar, e a própria futilidade dos adultos faz-se refletir nos pobres adolescentes. Eis que eu era adolescente e não me encaixava em nada, pra completar fui arremessada num mundo que eu não conhecia, sentia coisas que eu mal sabia que existia, era como um prédio desabando sobre uma pequena joaninha! E ainda me vem uma psicóloga dizendo que a solução pra todos meus problemas era a maquiagem, olha só a raiz dessa cultura de aparências, o dinheiro e a beleza resolverá todos seus problemas. Mas eu não dava a mínima pra isso, e acabei desistindo da ajuda alheia, desajustada e com poucos amigos, esquisita, caí várias vezes por tentar me equilibrar em cordas bambas, busquei refúgios em perigos, no meu próprio caos cresci. E no fim consegui sobreviver à minha adolescência.

“Doctor: What are you doing here, honey? You're not even old enough to know how bad life gets.
Cecilia: Obviously, Doctor, you've never been a 13-year-old girl.”
[The Virgin Suicides]