segunda-feira, 25 de julho de 2011

Nudez

Se por acaso um dia esse tecido invisível que me cobre por inteira e desde sempre me sufoca se desgrudar de meu corpo, o arrancarei com tanta força, e o rasgarei todo, todo, para que não possa nunca mais vestir nenhuma frágil existência que não tem a força interior necessária para se desprender dessa casca ilusória que impede qualquer movimento senão interior e prende a nossa essência dentro da gente, de modo que ninguém possa compartilhar do que há de bonito em nossa alma (e de feio também). Livrando-me desse empecilho, suspirarei com tanto prazer ao sentir minha face livre tocar o ar, que ele poderia se machucar com tamanha força de expiração. Será uma dor boa perder o que sempre me guiou (contra todas minhas vontades), acho que gritarei por surgir dentro de mim uma sensação repentina de coragem que num movimento impulsor grita para mostrar poder; ou gritarei devido à uma felicidade incontrolável, dessas que querem rasgar o peito e pular pro mundo; ou até de susto por ser uma sensação desconhecida que brotou inesperadamente; tanto faz porque no fim o grito é o mesmo. Gritante e despida, jogarei os retalhos pútridos da vestimenta contra o vento, que com a minha recomendação, os levará para qualquer dimensão inalcançável para que nunca qualquer anjo mau os costure e tente me vestir à força novamente. Juntarei os pedaços de cada história interrompida por esse manto que cobria meus olhos, sufocava minha fala, impedia minha respiração, e consertarei meticulosamente a vida que perdi. Correrei contra os fatos, voltarei no tempo, mudarei o sentido da terra. Para sempre nua dos meus medos.

 (Escrevi esse texto há dois anos, mas ele significa tanto pra mim que faço questão de postar nesse blog).

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