Dó.
O som.
Convidou-a.
Apaixonou-a.
Repentinamente.
Tocou seu âmago.
Despertou seu amor.
Apenas algumas notas?
Não! Havia algo de místico.
A sintonia no ar, na música, na face.
Uma ligação com aquela doce harmonia.
Tão louca e inexplicável interação silenciosa.
A melodia puxava forte... E feria por ser tão bela.
Não podiam se soltar, tal afeto era desconhecido até então.
Essas pobres existências amarradas pelos laços vis da admiração.
Mas logo soaram as palmas acompanhadas do desespero.
E aquela sensação permanente de música inacabada.
O instantâneo amor ainda pairava perplexo no ar.
Porém a nota final sempre soará a separação.
A música e a moça deixar-se-iam então.
Todavia não ousemos chamar de fim.
A moça levaria a música consigo.
Mas a música só possui vida
Quando está vibrando no ar.
A moça com carinho
Guardou-a sozinha.
Infelizmente, só.
Pois, a música
não é matéria.
Lá esqueceu.
A moça.
Tão só.
Assim.
Dó.
quarta-feira, 10 de abril de 2013
segunda-feira, 1 de abril de 2013
Já era madrugada em mim, e eu acordei...
Eu tive vontade de
chorar com a beleza do mundo. Foi uma sensação de nascer novamente. Não, não corri nenhum perigo físico.
Corri o perigo de morrer em vida, de desencantar. E foi preciso uma
tristeza muito grande para eu perceber que o poço que eu estava entrando não tinha a ver com a tristeza, mas com o vazio. Com o perder de vista daquele sentimento de contemplação da vida, que é condição da
minha existência (por isso me sentia deixando de existir). Afundando no vazio, não conseguia mais lutar
contra a força do hábito me empurrando. O hábito, a rotina, o automático, a alienação, a cegueira diária, são os aliados do vazio. E eu não queria o mesmo destino que tantos sensíveis acabam tendo, de serem engolidos pela maquinaria do mundo. Não sei qual foi o exato momento que me reencontrei, no nascer do dia ou no final da tarde? Não importa, pois uma descoberta me fez respirar novamente, e ao expirar pude sentir o prazer de estar viva (embora ainda sejam necessárias muitas expirações para afastar todo o vazio). Abri meu coração para a solidão. Pois a solidão
nos ensina amar a nós mesmos. E então tive essa sensação de
renascer para o mundo. E naquele dia, o céu estava tão azul, o mar
estava tão brilhante, havia um poço de luz no meio do mar, e tudo
isso encheu meus olhos de lágrimas, esse final de tarde era minha fagulha de vida. “Because the sky is blue, it
makes me cry”. Esse trecho dos Beatles nunca fez tanto sentido e eu
o cantarolava em minha mente. Eu estava comovida com a beleza do
mundo. A tristeza ainda estava em mim, o amor também, mas me
reencontrar com esse sentimento de puro encantamento me renovou. A
tristeza e o amor se tornaram belos. E novamente eu quis chorar, pois
estava tudo isso tão perto de mim, e eu pensando que só encontraria
a quilômetros de distância. A natureza esplêndida estava na
minha esquina. E pude ver o quanto é possível viajar sem pegar
ônibus ou avião, pois a viagem é mais interior do que qualquer
coisa. Viajar é um estado de espirito. E virando a rua, eu estava
viajando, vendo um bairro que nunca vi, numa cidade desconhecida. E
foi isso que fiz naquele feriado, viajei, para o encontro comigo mesma.
Continuo buscando respostas, percebendo o quanto ainda tenho a aprender sobre mim mesma e o mundo, mas me
dei a mão e disse “vamos juntas”. Para onde? Não
importa mais. Não posso deixar o mundo me engolir por estar parada
pensando qual caminho seguir. Vamos em frente, mas
de mãos dadas, mesmo que eu ainda não te conheça tão bem. Vamos
nos conhecendo no caminho, sei que muita coisa ainda vai doer, pois a
trilha para quem não consegue se ajustar é árdua, e porque ainda sou uma criança nesse mundo prático. Mas vou apertar
forte sua mão e poderei suportar. Se não me perder mais de você
(de mim), sei que chegarei em algum lugar, e sei que o caminho será
florido e perfumado. Mesmo que algumas vezes seja um perfume de
melancolia. Pois só assim vale a pena trilhar, pleno de vida, e
estar pleno de vida implica em desfrutar da dor também.
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