sábado, 11 de setembro de 2010

O desabrochar no caos

Eu era só uma adolescente em busca de respostas. Lembro-me bem, uns treze anos de idade, perdida e assustada. E como dizem por aí que quando temos problemas devemos ir ao psicólogo, busquei um, pensando que encontraria soluções. Eu nunca tinha me aberto pra ninguém, com muita dificuldade disse um pouco do que me atormentava, achando que valeria a pena e que era necessário. E o que a psicóloga me disse foi o seguinte: passe um batom, uma maquiagem, se sinta mais bonita. Passe uma maquiagem? Meu mundo caindo e a psicóloga dizendo pra eu passar maquiagem? Nunca mais voltei lá, e pra piorar, me senti mais incompreensível ainda, nem sequer uma psicóloga me entendia! Ouvia frequentemente dos adultos que aquilo que eu sentia não era nada e que quando crescesse ia piorar, que eu não tinha responsabilidades e contas pra pagar. Eu cheguei a achar que estava tudo perdido, pois, se tão novinha que eu era, estava me sentindo daquele jeito, e se a tendência é piorar cada vez mais, de fato, chegaria um dia que não teria espaço no meu corpo pra tanta dor. Mas agora, que o tempo passou e a dor não cresceu, estive olhando pra essa época, e só pude chegar a tais conclusões. Não há dor igual à da adolescência, simplesmente não há, não digo que é a maior dor nem a menor, é uma dor única e imensa, e que eu não menosprezo nem um pouco. Os adultos acham que ninguém sofre mais que eles próprios, mal sabem o mal que tão fazendo ao não dar a devida importância à dor dos filhos, e veja, não é pra tratá-los como crianças sem doce, mas sim como pessoas em uma transição muito difícil. Todo mundo olha para a adolescência como uma fase de futilidades e babaquices, e confesso que na minha própria adolescência eu via as pessoas da minha idade como idiotas (sim, eu era muito revoltada), mas deve-se entender que é uma fase onde todos estão buscando uma identidade, um lugar onde se encaixar, e a própria futilidade dos adultos faz-se refletir nos pobres adolescentes. Eis que eu era adolescente e não me encaixava em nada, pra completar fui arremessada num mundo que eu não conhecia, sentia coisas que eu mal sabia que existia, era como um prédio desabando sobre uma pequena joaninha! E ainda me vem uma psicóloga dizendo que a solução pra todos meus problemas era a maquiagem, olha só a raiz dessa cultura de aparências, o dinheiro e a beleza resolverá todos seus problemas. Mas eu não dava a mínima pra isso, e acabei desistindo da ajuda alheia, desajustada e com poucos amigos, esquisita, caí várias vezes por tentar me equilibrar em cordas bambas, busquei refúgios em perigos, no meu próprio caos cresci. E no fim consegui sobreviver à minha adolescência.

“Doctor: What are you doing here, honey? You're not even old enough to know how bad life gets.
Cecilia: Obviously, Doctor, you've never been a 13-year-old girl.”
[The Virgin Suicides]


6 comentários:

  1. Me identifiquei com seu blog; só que a parte da psicologa . eu não tive; mais acho que estou prescisando !

    Pois as coisas da vida é dificil de enteder;
    gostei daqui . vou vim sim aki *---*

    beeijos parabéns _http://fersilverio.blogspot.com/

    visite

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  2. Também me identifiquei muito com esse texto, e o filme, muito foda. Era esquisito que naquela época parecia que eu era a única passando por isso, não tinha com quem desabafar. E mesmo se eu tivesse, se eu tivesse ido pra uma psicóloga, acho que não consegueria colocar isso pra fora em palavras. Mas não há nada como o tempo, aquela dor que parecia interminável, e agora eu olho pra trás e já é fumaça. Na verdade, as vezes eu acho que ainda tem uns rastro mínimos dela aqui, sabia? As vezes eu sinto que criei uma capa protetora e que não consigo ser 'eu' ao extremo na frente dos outros. Acho que minhas borboletas ainda estão presas em mim! Mas agora eu já estou viajaaando, esse post me fez pensar nisso...

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  3. VOCE SOBREVIVEU! Isso é o que mais importa. Todos na adolescencia querem se encaixar, voce tambem queria, ué. agora, deixa eu te contar: que psicologa idiota! acho que ela confundiu te ajudar com dar a opiniçao dela! XD

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  4. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHH O LAYOUT TÁ LINDO! :DDD

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  5. Eu também era uma adolescente revoltada, mas continuo sendo uma pessoa arrogante. Nunca quis ir numa psicóloga durante a adolescência, embora minha mãe achasse que eu precisava. Quando fui em uma, já na juventude, tive sorte e não ouvi absurdos, escolher uma psicóloga é chutar com a sorte. Hoje vejo que a adolescência, apesar de difícil, é uma fase divertida e me arrependo um pouco de não ter aproveitado com mais intensidade. Eu não gosto mesmo é da juventude, detesto ser jovem.

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  6. Diversas vezes eu penso em terapia,o ponto é: se eu não me entendo,como alguém pode chegar perto disso?

    Com muito custo,sobrevivi. Mas nunca estive(e não acho que vou estar um dia) dentro dos padrões.

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