terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sonhadores de ônibus

(Tirarei as teias daqui com um texto antigo do outro blog. Eu gosto dele e não gostaria que caísse no esquecimento. Prometo voltar em breve com algo novo).

Entrou no ônibus exausta, como sempre ansiosa por chegar em casa. Sentou na janela para sentir o vento em sua cara, era um dia quente. Estava chegando naquele ponto. “Será que nossos horários se cruzarão?” Pensava. Era esse o momento que podia sair da rotina de todos os dias, e hoje tomaria coragem. Olhou pela janela, e lá estava ele, ansioso para vê-la. Tão lindo que doía seu coração. Esse seria o momento, ela finalmente iria se declarar. Ouviu o barulho da roleta, virou discretamente com seu olhar meigo para trás. Como se estivesse o convidando a sentar no lugar vago ao seu lado. Mas desanimou ao ver que havia bancos vazios. O jovem sentou um pouco atrás dela, mas isso não impediu de ficarem juntos (de certa forma). Ela sabia que ele não sentou ao seu lado, pois ficariam óbvios seus sentimentos por ela “E um pouco de charme é preciso”. Mas hoje era o dia, e estava decidida a isso. Ela se levantou, sentou ao lado dele, e disse "eu sempre te amei, vinha te observando há tanto tempo!", então ele disse "eu também, minha querida, vamos sair daqui!". Desceram, nem sabiam aonde, mas ao descer correram de mãos dadas rumo ao nada, correram como se tivessem se redimindo por tanto tempo de silêncio. Eles riam como duas crianças, uma senhora disse que os viu flutuar. O homem cego sentiu a presença de felicidade, e correu. Correu, pois acreditou que nunca sentiria aquilo de novo, e era um sentimento bom. A senhora correu, pois se preocupou com o homem cego. Logo, deram as mãos sem perceber. Uma criança correu, pois achou que os jovens saíram de um conto de fadas. A mãe correu atrás da criança. Em pouco tempo havia pelo menos 10 pessoas correndo por diversos motivos. Como em um musical, todos podiam sentir a música. Alguém puxou o sinal para descer do ônibus, o som a atingiu em cheio e ela despertou dos seus devaneios. Foi ele que puxara, e então passou por ela e nem sequer a olhou. “Será que não me viu?” Era o que a confortava. Por hoje, não faz mais sentido fantasiar. Fantasiava, pois tinha a esperança do acontecer. Esse não era o dia, mas da próxima vez será. Ela vem pensando isso desde a primeira vez que o viu. É que precisam se conhecer melhor, assim, de longe. Apesar de até terem se casado. Ele desceu. Por hoje o sonho acabou. Sempre teve vontade de descer junto, mas a força da rotina nunca a deixou levantar

(Julho / 2008 )

7 comentários:

  1. Que fofo!
    Pensei que ela relamente tivesse se declarado!! hahahaha
    Gostei.

    ;*

    ResponderExcluir
  2. Belo texto. Parece um filme,daqueles com finais felizes.

    ResponderExcluir
  3. Rsrsrs parece mesmo um musical!
    Mó expectativa quanto ao final, tava esperando q ela fosse correr atrás dele, e... e... rsrsrs

    ResponderExcluir
  4. Eu leeembro desse texto...acho que lembro até da época em que ele foi escrito.

    ResponderExcluir
  5. Carmel estava certa, afinal. Você, do grupo, é a que escreve com o coração. E seus textos tocam o meu =)
    O de hoje foi tristemente real.

    ResponderExcluir
  6. e as imagens dão sempre um toque especial.

    ResponderExcluir